Era alvo
Mas não alva
A água que veio do alto
Caiu sobre minha alma
Os pesos de suas gotas
Atingiram-me feito flechas
Fala da forma mais rouca
Ecoando por minhas janelas
Não é privilégio
Ela lava a todos
Campos tão desconexos
A água não penetra os indoutos
São as gotas que escorrem
Lavando-me por inteira
São as palavras nobres
Ensinando-me a ser verdadeira
Eu amei
Amei por sentir-me amada
Em retribuição eu dancei
Dancei com meus olhos d’água
Alegrei-me com a chuva
Que caía em céu aberto
Desprezei o guarda-chuva
Quis molhar o meu interno
Em meu céu choveu
E até hoje sinto suas gotas
O eterno estremeceu
Pôs seus trovões em minha boca
Transformei-me em arco
E miro as flechas do amor
Não busco acertar o fraco
Mas o guerreiro que não teme a dor
A água batuca em meu peito
Causa-me tanto prazer
Seu refrescar eu anseio
Orvalho do amanhecer
És chuva serôdia
Que entoa feito canção
Água da minha alegria
Que lava o meu coração
Por Patricia Campos