Quem sabe de sua trajetória?
Pensamos sobre, mas nunca há certeza
Sua voz traça sua história
Só quem vive tem a destreza
Fala desigual a realidade
E suas marcas deixadas no tempo
Que quando vistas não são mais verdade
Por ter deixado ir com o vento
O dizer de teu coração é abalado
E tua base feita na areia
O espelho reflete seus pecados
E tua raiz em ampulheta
Tempo, para onde vai?
Será tu que me deixaste para trás?
Sei que foi-se além do cais
E seu trabalho não lhe deixa em paz
Quando encontrará descanso?
Nunca sentará para conversar
O tempo corre em seus prantos
Salgando ainda mais a água do mar
Os cacos dividem-se conforme a vida
E teus pedaços vão fluindo
Como harpa em harmonia
Em um peito vasto e infindo
Sua pena traça o laço
Que te enlaça devagar
O tempo de seu traço
Não percebe seu passar
O presente inexistente
Vai criando asas para voar
Sua linha decrescente
Vai se diminuindo para não brotar
Seu passado sempre vivo
Mas nunca bem vivido
Sua alma sem o espírito
E seu peito coibido
Sua dor do futuro
Ainda não se presenciou
Um dia virá o obscuro
E o desconhecido se dissipou
É estranho senhor tempo
A sua própria existência
Vive ao relento
E age sem consciência
Pobre tempo sem lar
Todos o esquece
Refúgio sem lugar
Calou suas preces
Ele corre sem destino
E não espera seu final
Seu ser escondido
Mas sempre dá sua moral
Escreva logo o seu conto
Um dia não mais existirá
E o que fica por enquanto
Se dissipará
Luiza Campos ?